segunda-feira, outubro 08, 2007

Qüinquagésima Nona Semana

Primeiro dia de campanha, todos empolgados correndo campos abertos entre matas fechadas. A única saudade no peito era dos dias de treinamento, onde podiam a vontade atirar em alvo inanimado. Agora todo alvo era também um peito armado.

Na terceira semana, ainda todos unidos, tanto sucesso e nenhuma baixa aliada traziam o gozo da vitória e brotava na memória os dias de folga e farra do acampamento. Agora só havia o descalçar das botas úmidas e as cartas sujas aos entes queridos, azes e valetes. Gripe.

Oitava semana. Duas baixas aliadas, o cara do rádio e um morteiro, grandes amigos que àquela altura já eram irmãos, agora irmãos de sangue, muito sangue. Correr pelos campos tinha um novo significado, o apertar de gatilhos teve um gosto doce durante muitas investidas até a décima segunda semana.

A décima segunda semana foi o acúmulo de tantas doces vinganças que se fizera bile, amarga como o vômito ácido a tornar ásperos os dentes. Ranger de dentes na madrugada. Dormir não servia de mais nada.

Vigésima primeira semana. Agora sim era a guerra de verdade, nas idéias chiadas que aconteciam no confronto dos fogos variados, tantas baixas de inimigos e aliados agora já nem tinham gosto. A saudade a muito era de casa, de mãe, mulher, filhos e amigos.

No fim da trigésima semana vinte baixas eram contadas. Muitos já não conseguiam mais atirar, mas atiravam, mecanizados pela vontade de sobreviver no subviver daquela batalha. Barba por fazer, noites sem dormir, dias sem comer.

Na primeira noite da quadragésima sexta semana aquela coragem da primeira se tornara tara dos que já não mais a tinham, esses se escondiam por traz dos mais resistentes a mandar bala para o outro lado, até que de repente, ora ou outra, passava voando uma perna, do joelho para baixo. Todos ali eram cientes agentes funerários prestando serviço a si mesmos.

Hoje, na alvorada da qüinquagésima nona semana, surgiu entre raios de sol o som das hélices farfalhando folhas chão afora. Metade da tropa se fora embora e o que poderia ser a retirada é a nova chegada. Um capitão, sargentos e muitos soldados, todos armados, empolgados, um grupo de recém treinados, recém coitados. Alimentos, bebidas, drogas estimulantes e uma vontade louca de enforcar os comandantes tomam o pelotão que a quilômetros vem deixando como rastro mil corpos no chão.

Deixo em meu leito raso fundado no pó da terra, onde muitos se puseram ao pesadelo das noites na guerra, a cruz e medalha que de nada me valeram.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc sabe q eu sou sua maior fã...

Anônimo disse...

Adelaide foi feita da costela de Marcos.
Mal sabia Marcos.
Marcos comeu a maçã.
Mal sabia Adelaide.
Daí todo mundo já sabe... veio o castigo.
Daí nem todo mundo sabe... veio o dois.
Bem sabem eles:
AdelaideMarcos
Bem sabem ambos:
MarcosAdelaide.
Existe ponto final?