Toquei sozinho. A que tem altos e baixos essa noite perdeu os autos. Apresentou-se mecânica nota por nota. Picos e vales claros em cada passo, mas como um relógio insistente, cuja corda se acaba num turbilhão de aplausos. Não me incomodava estar ali feito uma máquina de divertir. Incomodava-me tocar sozinho. Junto à orquestra tinha ao menos o uníssono poder do grupo. Minha mãe me dissera uma vez: O valor de uma orquestra está no conjunto. Há muito abandonei a orquestra, ainda quando estava junto dela, e os meus solos de violino agora são feito engrenagens eficientes, sem alma. Ganho com isso os aplausos e perco o tempero.
Desci as escadas em direção ao camarim, colado na porta um bilhete que recolhi prontamente e entrei. Sentado diante do espelho li.
Querido, estou na cidade, mas não pude comparecer. Volto pela manhã. Obrigado pelas entradas, dei à Luci que levou este bilhete. Ligue-me amanhã, estarei em casa.
Eu já sabia. Ainda previsível. Bem como minhas notas.
No estacionamento, encostado no carro o velho maestro.
_Soube do seu solo e resolvi aparecer, rapaz o que lhe falta é uma orquestra.
Hoje acordei um pouco decepcionado, talvez arrependido.
2 comentários:
Os solos, sem dúvidas, são bons. Mas o grupo ensina coisa, enobrece o artista. E o fato é que gente sempre faz falta, porque ninguém nasce pra ser e/ou viver sozinho...
Curti, cara!
Abração!
Que bonito, moço!
Parece fazer parte de uma história maior... Com antes e depois...
Ao mesmo tempo, lido assim, dá margens à metáforas nessa minha cabeça que adora viajar...rs.
Beijo com carinho.
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