Graça, viúva açogueira,
Juntou-se com Jonas da feira
Pra vender melões recheados
De carnes tiradas do bucho
Da caça de alguns veados.
Disse Marta, a vizinha,
E tudo disse sozinha,
Que aquela nova iguaria,
Falou-se na sacristia,
Do diabo era heresia.
Fez-se um rebu do escambal
Por esta que até passou mal
Em pensar que sua mercearia
Muito cliente perdia
Praquela tal feitoria.
Marta na rua gritava,
Sua inveja já não se agüentava:
_Não comam desse feitiço!
Que vendo barato por isso
O mais gostoso chouriço!
Mas Graça muito ardilosa
E Jonas também todo prosa
Vendiam melões trabalhados,
Faziam a boa cozinha
Ora Cozidos, ora assados.
Num domingo corriqueiro,
Feito à pimenta de cheiro,
Chamaram o padre a um jantar.
Não sabendo como negar
Foi o mesmo experimentar.
_Deus! Como pode ser...
Disso eu nunca saber...
Dizia o padre satisfeito:
_Pois esse cozido é o jeito
Que se tem de comer direito.
Comeram daquilo o doutor,
O padeiro, o banqueiro, o pintor...
_Eita comida bem feita!
Com a língua assim satisfeita
Saiam pedindo a receita.
Refogue com manjericão
Alho, cebola e açafrão
Sal aplique com muito cuidado
O sabor do caldo é adoçado
Quando tudo estiver escaldado.
Faça tudo em fogo médio,
Faça arroz pra livrar-se do tédio,
E atente ao minuto marcado,
Vinte e cinco é suficiente
Pra não comer caldo queimado
Virou o invento notícia,
Veio gente até da Suíça
Pra aguçar o paladar.
Uns comiam até dormir
E pediam até pra levar
E Marta então revoltada,
Não mais que uma pobre coitada,
Com Graça foi reclamar.
De tanto ódio pungente
Não pôde nem argumentar.
Agora vê se pode,
A outra fazer tal pagode
Por pouco não mais vender.
São apenas os melões
E o bucho que há de conter.
Esqueceu Marta de certo
Que todo prato bem feito
Por muito é acompanhado,
Arroz, feijão, azeite
Bebidas e alho picado.
E tudo se encontra pertinho
Na venda de Marta,
Que está logo ao lado!
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