_Não entendo isso.
_Isso o quê?
_Sua mania de escrever devaneios literários num diário.
_E o que tem de mais?
_Um diário é feito para contar os dias.
_Para isso eu já tenho um calendário, tem até um impresso nas primeiras páginas do meu não-diário.
_Não é contar de contar que eu tô falando, é tipo de contar uma história. História com "h". A sua história dia-a-dia.
_Para quê? Quem se interessaria pela minha história? Não faço nada que seja assim... tão admirável.
_É, pensando assim você tem razão. Mas acredito que se as pessoas tivessem esse hábito facilitariam o trabalho dos historiadores.
_Que que eu tenho a ver com os historiadores?
_Nada por enquanto. Mas digamos que alguém pegue o seu... como é mesmo?
_Não-diário?
_É, isso aí, seu não-diário. Ele não dirá nada sobre você.
_Mas poderia dizer muito sobre o que andei pensando vida afora.
_Pensando, han.
_Se vivi, ou vivenciei, absorvi algo. Tendo esse algo em mim me restam três opções, eu acho.
_Hum?
_Eu posso me calar.
_Dois...
_Posso vomitar.
_Três.
_Ou posso digerir!
_E qual você está fazendo agora?
_Digerindo ora!
_Escrevendo essas viagens?
_É.
_Por isso é que sai tudo uma merda. hehehehehehe...
_Viu... Taí você vomitando. Porque não vai contar o dia ao seu diário? Quem sabe um historiador gosta da sua história e escreva um mestrado com ela.
_Tá me cassoando neh?!
_Não não...
_Prefiro falar sobre mim mesmo que dos sentidos e viagens e tal... é chato!
_Agora podia ter se calado. Sei o quanto seu umbigo é importante, cuidado para não engasgá-lo enquanto come seu ego!
_O quê? Enquanto eu como... como assim meu ego?
_Ego é tudo que você vomita no seu diário!
_Me vale o vômito. Bem como a quem se cala.
_Me vale a digestão.
_E valores não se discutem.
_Então tá.