Entrou de repente e sentou-se na mesa da sala, sobre a mesa mesmo, em cima de um garfo que tirou rapidamente do traseiro, derrubou um copo e as frutas da gamela. Bochechas rosadas e mil desculpas.
Depois de muito ouvir começou a falar baixinho, pra fazer chegar mais perto, cada vez mais baixo, cada vez mais perto. Dizia coisas do passado. Entre experiências profissionais, hora ou outra, surgiam amores, dois ou três amores vividos. Falou também de um tal futuro à espera, ainda no forno e “quem me dera isso e aquilo e aquilo outro”.
Estava bem perto. Dada hora suas mãos alcançaram peito, ombros e enfim costas. Quase silêncio. Envolvido e protegido, lacrado, selado. Simbiose.
Pouco depois falava tão baixo que os ouvidos estavam dentro da boca, por isso as palavras eram estalos de lábios e ranger de dentes entre úmidas línguas sobre a pele do pescoço. Sonora sopa de letrinhas. Tão silenciosa. Arrepios.
O aroma perfumado dos cabelos, que se enrolaram na boca e nos brincos, tomava fugas as narinas entorpecidas, surdas e cegas narinas. Por outro lado os olhos fechados podiam imaginar só o conjunto de dois corpos no pequeno universo obscuro da sala de jantar.
Até que então estavam os dois de alma nua, falando cada vez mais baixinho, mais pertinho...